domingo, 7 de outubro de 2012

O candidato acidental e o eleitor safado


Nesta eleição, nenhum blog foi mais ousado e inovador do que o Candidato Acidental. A ideia era a seguinte: um jornalista aqui do JT se filiou a um partido (isso ainda em 2011) para disputar uma eleição deste ano como candidato a vereador aqui em São Paulo. Não para ser eleito, claro, porque não era essa a intenção. A intenção era mostrar os bastidores e trambicagens que rolam por trás de uma campanha política. De post em post, ele foi montando um quebra-cabeça eleitoral. Apesar de suas observações bem humoradas, o quadro que o Candidato Acidental nos mostrou é sombrio. Recomendo a leitura de todos os posts, mas destaco três em especial: - candidatos alugando vans para transportar eleitores - o comércio de mensagens telefônicas - eleitores trocando votos por calçados e até por cerveja Sim, é abjeta a maneira como os candidatos usam crianças, idosos, negros e deficientes para angariar votos. Mas a cada esquina visitada pelo Candidato Acidental, um crime eleitoral era cometido a céu aberto — e quem os cometia não eram só os políticos. Derrubou-se o mito de que, no Brasil, o eleitor é o pobrezinho, oprimido pelas maquinações dos poderosos. Pelo contrário, o eleitor encontrou o seu lugar no jogo para tentar tirar alguma vantagem, fazendo escambos com o seu voto e o de outros e se tornando sócio de candidatos desonestos. Eis a grande conclusão: o eleitor é tão safado quanto o político — o mesmo político que o deixará “indignado” quando estiver no poder. Voto aqui não é um instrumento democrático, nem mesmo uma arma contra os corruptos. Voto é uma mercadoria de R$ 1,99 vendida numa Rua 25 de Março lotada de camelôs eleitorais. Dirão alguns que há eleitores conscientes, que votam porque acreditam. Eu direi que são minoria. Dirão outros que basta investirmos pesadamente em educação para instruir nosso povo e todo esse blá-blá-blá. Mas a proposta, apesar de bem intencionada, encontra furos. Primeiro porque soa um tanto utópica, e segundo porque muitos desses crimes são cometidos por eleitores escolarizados. A questão é muito maior do que isso. Estamos falando de deveres cívicos e valores éticos que, historicamente, sempre foram um tanto frouxos no Brasil. Procuro fazer a minha parte, alertando e municiando as pessoas com informações sobre candidatos e me colocando sempre à disposição para qualquer debate. Já acreditar é outro papo. Todos os meus ímpetos de querer mudar o mundo foram esgotados pelos fatos históricos. De qualquer maneira, obrigado, Candidato Acidental. Da próxima vez que me perguntarem porque sou tão pessimista, terei uma resposta concreta na ponta da língua.

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