domingo, 13 de abril de 2014

ARTIGO: CASADAS E SOZINHAS

Casada e sozinha



Ilustração: Lumi Mae
Ilustração: Lumi Mae

Comentando o “Se eu fosse você''

A questão da semana é o caso da mulher, casada há 30 anos, que considera sua vida tediosa e sem graça. Ela e o marido não fazem sexo há anos e mal se comunicam. Essa situação não é rara.
Há algum tempo, atendi no consultório um grupo de dez mulheres, que se reuniam por uma questão específica: a solidão. As idades variavam de 35 a 55 anos. Oito eram casadas, uma separada e uma viúva. Apesar de expressarem o desejo de um companheiro estável, ficou evidente como as vidas das que viviam sozinhas eram mais interessantes e cheias de possibilidades em comparação com as das mulheres casadas.
Estas se mostravam desesperançadas, sentiam-se impotentes para tentar qualquer transformação que pudesse lhes proporcionar algum prazer no plano afetivo e sexual. A monotonia do dia-a-dia, a falta de diálogo com o marido e a ausência de uma vida sexual satisfatória eram a tônica de suas queixas. Relato aqui a história de uma delas por ser, nos aspectos principais, semelhante à de todas as outras mulheres do grupo:
Joyce estava casada há 27 anos. Após o casamento das duas filhas, passou a morar sozinha com o marido. Foi nessa época que um sentimento profundo de solidão se apoderou dela. Gostava de sair, ir ao cinema, conhecer pessoas, mas seu marido recusava qualquer sugestão sua. Não conversavam nunca. Ele chegava cedo do trabalho e trancava-se no escritório. Dirigia-se a ela exclusivamente para saber se precisava de dinheiro para algum pagamento doméstico. Faziam sexo muito raramente, e mecânico, sem nenhum carinho. Ele não a tratava mal nem bem. Era indiferente. Quando casou com ele, aos 18 anos, Joyce não imaginava que sua vida seria assim. Sempre ouviu seus pais dizerem que se não se casasse teria uma vida de solidão.
Somente a partir da década de 1940 passamos a associar mais intimamente casamento a amor. A entrada do amor romântico fez do casamento o meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas, sendo a sociedade ocidental a única a assumir o risco de ver esse tipo de união ser estabelecido sobre o amor de um casal.
Imagina-se que assim se alcançará uma complementação total, que as duas pessoas se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro. Em pouco tempo essas expectativas se mostram incompatíveis com a realidade, e as frustrações vão se acumulando.
Na busca de segurança afetiva e financeira, qualquer preço é pago para evitar tensões decorrentes de uma vida autônoma. Por medo do desamparo as pessoas suportam o insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo, e não raro se tornam dois estranhos ocupando o mesmo espaço físico.
Não há dúvida de que o medo da solidão é responsável por muitas opções equivocadas de vida. Tenta-se acreditar que casamento é assim mesmo. Aí é que reside o perigo. Se a pessoa não tomar coragem e sair fora, vai viver exatamente o mesmo que um sapo desatento. Uma fábula conta que se um sapo estiver em uma panela de água fria e a temperatura da água se elevar lenta e suavemente, ele nunca saltará. Será cozido. 

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