quarta-feira, 24 de junho de 2015


Show da Guerra de espadas por Paulo 

Machado

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Desde que comecei a me entender como gente, em Senhor do Bonfim, em minhas moradas e estadias pelo Campo do Gado, Bandeira, Pernambuquinho, Costa Pinto e Cotegipe, ao imaginar e ver a “Guerra de Espadas”, sempre me veio à mente o alerta de Jesus Cristo a seus apóstolos, alerta que os deixava com certeza atentos e hesitantes entre o medo e a curiosidade:
“Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo.E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai”. (*Marcos 13:34-37).
Mesmo nos dias de hoie, não há como, no dia 23 de junho, véspera do grande dia da Festa de São João Batista, não retornar a essas palavras de Jesus quando circulo pela Vila Nova da Rainha, sobretudo a partir das quinze horas.


Claro que tudo vem desde o nascer do sol, em câmara lenta: desde o esfregar de olhos matinal que a cidade procura esconder o seu nervosismo, comprando milhos em carros e lonas abarrotados; adquirindo amendoim em mil pontos que se multiplicam a cada esquina e a cada metro; entrando nervosamente nos bancos, como se o dinheiro dos caixas eletrônicos estivessem prestes a serem engolidos por alguma força misteriosa. Até mesmo na feira, e nos supermercados, as longas conversas ao pé das bancas e gôndolas quase não existem, as pessoas se apressam como se alguém estivesse a lhes dizer: “já estamos fechando!”. Isto sem falarmos nas sempre novas placas de compensado e papelões que protegem vidraças e fachadas de bancos e casas comerciais.
Mas é a partir das quinze e dezesseis horas que a vida corre, escapa rapidamente de pernas e rodas, casas comerciais cerram suas portas, e todo mundo dá a impressão de estar correndo, para suas casas, aliás, para os seus “bunkers”, que passam a ser refúgios e esconderijos até o final da delirante guerra de espadas. Coisa de vinte e duas ou vinte e três horas.
Pedro Amorim e Padre Walter Francisco de Souza, hoje gozando da companhia viva do santo homenageado, não imaginavam que, ao iniciar aquela guerra de ida e vinda de espadas, da parte de cima para a parte de baixo da Praça da Catedral, e vice-versa, estavam instaurando, definitivamente em Senhor do Bonfim, um “frisson”, um “clima”, “uma expectativa” que cresceria em escala geométrica, por herança ou coisa que o valha, até a milésima geração. A partir daquele momento se estava plantando em nossa terra a semente do “nervoso medo”, de uma “guerra inaudita”, acompanhada de delírios e imaginários, que somente os iniciados, os espadeiros, vestidos a caráter, têm o direito de saborear até a exaustão, enquanto nós, os neófitos, espreitamos o espetáculo por gretas e venezianas de nossas casas.
Em minha mente ainda menina, desfilam Salomé com a cabeça de João Batista em uma bandeja, ao som de uma nervosa dança oriental, enquanto as palavras bíblicas recriam o cenário do quase fim de mundo: 13 Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.” (Mateus 25, 13).
Ao menos, é claro, até que a Guerra termine, e saiamos catando os bambus jogados a cada esquina, e recuperando ao som e ao ritmo do belo Bloco Caroá, o Paraíso quase perdido…
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Paulo Machado
Senhor do Bonfim, 23 de junho de 2015

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