domingo, 18 de agosto de 2013

ARTIGO: DETENTO RELATA COTIDIANO DE UM ENCARCERADO

13 DE Agosto: Dia do Encarcerado

Oi? Eu queria conversar com você: é que, eu não tenho muitas pessoas pra conversar – e, quando converso, as pessoas não me ouvem: elas se cansam logo – eu não sei por quê: talvez, onde, digo, moro, e moro lá a cerca de 2,6 anos, seja eu como que um alienígena – sinto que não sou compreendido, que sou prolixo no meu falar, e que as pessoas não acreditam no que eu acredito e, assim, tenho que, na maioria das vezes, me calar, me isolar: ficar mudo e ouvir – sinto que as pessoas, algumas se aborrecem pelo fato, até mesmo, de me verem, apenas eu indo pra biblioteca, eu na sala de aula, pela manhã e a tarde, nos outros momentos, me vêem lendo ou escrevendo: se incomodam até mesmo porque, às madrugadas, acordo pra escrever!

Um “amigo”, colega de “apartamento” (leia= cela”), uma vez, como que incomodado, desabafou comigo: disse que eu estava ficando doido, - que não era normal alguém acordar á madrugada para escrever, alguém ser muito calado e viver apenas à companhia dos livros, lendo e escrevendo; alguém que não gosta de jogar bola, de fazer brincadeiras (aqui, entenda, “comediar” com os outros – ou ser comediado, que é quando alguém faz piadas jocosas, imorais e insípidas, pra que você se torne motivo de gracejo e “comédia” para os espectadores): enfim que minha vida não era normal, que eu ia ficar doido!

Eu até tentei conversar com este “amigo”, mas, logo percebi que ele não estava disposto a ouvir e, assim, eu desisti de conversar com ele!

- Eu gostaria que você, aí do outro lado, estivesse me ouvindo: é que não tenho amigos pra conversar – eu, às vezes, quero desabafar, falar, mas não sou compreendido: você me compreende? Você está me ouvindo?

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